Meio século: "Deus e o Diabo na Terra do Sol" completa 50 anos de lançamento

Meio século: "Deus e o Diabo na Terra do Sol" completa 50 anos de lançamento
Carol Souza
Por Carol Souza

Nesta última quinta-feira (10) o longa-metragem nacional "Deus e o Diabo na Terra do Sol", dirigido por Glauber Rocha, alcançou 50 anos de lançamento, sendo até hoje, considerado um verdadeiro marco na carreira de muitos atores presentes no elenco, inclusive da atriz veterana Yoná Magalhães. Porém, isto quase não aconteceu.

Apesar da notoriedade conseguida pela atriz depois de sua atuação como Rosa no longa, Yoná, em entrevista ao portal UOL, revelou que por pouco não participou do filme, tendo sido forçada por seu marido na época, Luiz Augusto Mendes da Costa, produtor do projeto.

Além de Yoná, outros atores foram consagrados pelo público brasileiro depois de atuar no longa, tido como um ícone do cinema nacional, como Othon Bastos e Geraldo Del Rey.

Leia abaixo um trecho da entrevista de Yoná sobre "Deus e o Diabo na Terra do Sol", que completa meio século de lançamento:

"'Deus e o Diabo na Terra do Sol' foi um marco no cinema brasileiro e, creio, um marco na carreira de todos que tiveram a felicidade de participar. Glauber Rocha, na época, era um jovem de mais ou menos 20 anos, um gênio que ficaria conhecido e respeitado no mundo inteiro. Eu estava morando em Salvador, recém-casada com Luiz Augusto Mendes da Costa, um dos produtores do filme. Por essa razão, tive a sorte de interpretar a Rosa. Sim, meu marido forçou minha participação no filme.

Creio que Glauber teria outra atriz em mente, porém se viu levado a me aceitar, cofiando mais em sua habilidade como diretor do que em meu talento. E ele estava certo: criou a Rosa e conseguiu fazer com que uma atriz iniciante, apesar de já ser profissional, realizasse uma grande performance. O fato de ter ficado em Monte Santo (BA) durante quase um mês, antes de iniciar minha parte na história, deu-me a oportunidade de vivenciar o cotidiano dos que moravam lá e aqueles que vinham da caatinga buscar ajuda na Igreja, que recebia alimentos para serem distribuídos aos mais carentes.

Começávamos a subir o Monte para filmar ainda de madrugada para que pudéssemos aproveitar o dia. Filmávamos até o fim da tarde, quando a luz do dia começava a diminuir. Ventava muito, o que aliviava o calor. Conheci um Glauber meigo, de voz mansa e uma enorme simpatia. Era grande experiência prazerosa vê-lo dirigir. Ele era, ao mesmo tempo, os atores, a câmera, a luz. Enfim, transbordava de força, emoção e dinamismo. Com relação a Rosa, eu sentia o que ele queria transmitir. Era mágico.

Quando estávamos gravando na caatinga, certa vez, meu lanche desapareceu –consequência de algum bichinho faminto, habitante da região– e assim mesmo consegui terminar a jornada daquele dia. Acredito que não tínhamos ideia da importância da obra na qual estávamos participando. Não pude ir a estreia do filme, estava com meu filho que acabara de nascer. Glauber impressionou diretores e críticos europeus com 'Deus e o Diabo na Terra do Sol', filme cheio de uma selvagem beleza que excitou a todos com a possibilidade de um grande cinema nacional".

Sobre o autor

Carol Souza
Carol SouzaAmante do cinema, dos livros e apaixonadíssima pelo bom e velho rock n'roll. Amo escrever e escrevo sobre o que amo. Ativista da causa feminista e bebedora de café profissional. Instagram: @barbooosa.carol
Fale com o autor: [email protected]
Conheça nossa redação. Ver equipe.

Escolha do editor

Comentários

O que você achou?
Compartilhe com seus amigos: