'AmarElo - É Tudo Pra Ontem': Documentário de Emicida é urgente

Emicida dá uma aula de história enquanto mostra trajetórias da carreira e sua conexão com lutas de gerações passadas
Emicida dá uma aula de história enquanto mostra trajetórias da carreira e sua conexão com lutas de gerações passadas
Marcos Henderson
Por Marcos Henderson

"Tem um velho ditado Iorubá que diz: 'Exu matou um pássaro ontem, com uma pedra que só jogou hoje'. Esse ditado é a melhor forma de resumir o que eu tenho que fazer". Assim inicia Emicida com sua frase de abertura no documentário "AmarElo - É Tudo Pra Ontem", que estreou na Netflix nesta terça-feira (8). A afirmação faz jus ao que o narrador desta nova história tem a falar aos brasileiros, sobretudo aos mais desavisados que sequer conhecem - ou se recusam a acreditar - as origens da marginalização do sangue negro no país. 

Emicida prepara uma contextualização histórica da sociedade no Brasil desde o uso da escravidão como modelo principal de trabalho dos imigrantes europeus até a abolição da escravatura marcada por boicotes e consequentes beneficiamentos dos brancos em cargos chaves, percorrendo por toda sua trajetória pessoal e construção de carreira, que segundo ele, está inteiramente conectada a lutas e sonhos de gerações passadas, motivo pelo qual escolheu o ditado Iorubá, dialogando abertamente sobre suas missões para exterminar injustiças e preconceitos iniciados há muito tempo atrás. 

Com 90 minutos de duração, o documentário se constrói entre as mudanças de Emicida e sua participação no desenvolvimento do movimento hip-hop no Brasil, além de exibir registros do show realizado no Theatro Municipal. 

"AmarElo - É Tudo Pra Ontem" é uma realização do Laboratório Fantasma, produzido por Evandro Fióti e dirigido por Fred Ouro Preto. O projeto interligado ao terceiro álbum de estúdio de Emicida, "AmarElo", é urgente e preciso ao esmiuçar cada detalhe da história brasileira, incluindo diálogos realistas sobre a brutalidade da escravidão, geralmente passada em branco nas escolas tradicionais. 

E é exatamente pelos defeitos educacionais diretamente conectados a gestões herdadas da cultura do racismo que Emicida utiliza uma linguagem didática e ilustrada em seu documentário, fazendo sua voz ecoar para qualquer idade, mesmo que a classificação indicativa exiba a recomendação mínima de 12 anos, pois sua intenção é essa: falar, com extrema urgência, sobre os problemas que ainda enfrentamos, por que os enfrentamos, e como é simples perceber que a maioria esmagadora das injustiças sociais são fortalecidas pelo racismo. 

Sobre o autor

Marcos Henderson
Marcos HendersonPublicitário, músico e, aqui, escrevo sobre o que as diferentes culturas têm a nos dizer. Como artista, celebro a força da arte e conto histórias do entretenimento. Twitter: @marhoscenderson
Fale com o autor: [email protected]
Conheça nossa redação. Ver equipe.

Escolha do editor

Comentários

O que você achou?
Compartilhe com seus amigos: