DJ Sama' Abdulhadi é presa por tocar Techno na Palestina; Fãs fazem petição para liberta-la

A pioneira da cena underground no Estado da Palestina foi presa sob acusação de 'ofender a religião'
A pioneira da cena underground no Estado da Palestina foi presa sob acusação de 'ofender a religião'
Marcos Henderson
Por Marcos Henderson

A aclamada DJ Sama' Abdulhadi foi presa no último domingo (27) por tocar Techno próximo de um santuário religioso no Estado da Palestina, em um evento que gerou revoltas de extremistas religiosos, responsáveis por atirar fogos de artifício em direção aos organizadores do evento e atrair a força policial para o local. 

De acordo com informações do jornal italiano La Repubblica, “centenas” de jovens palestinos compareceram a uma festa no sábado (26) no santuário Nabi Musa, perto de Jericó, que segundo os muçulmanos foi construído sobre o local de descanso do profeta Moisés. Alguns vídeos da festa provocaram indignação de grupos religiosos, que agiram rapidamente para boicotar o evento à força. 

Os organizadores afirmaram ter obtido autorizações para o evento da Autoridade Palestina. O primeiro-ministro palestino, Mohammad Shtayyeh, supostamente criou uma comissão para investigar e o ministro de Assuntos Religiosos, Hussam Abu al-Rub, chamou a festa de "obscena". “Não ficaremos calados e vamos processar qualquer um que participou”, acrescentou o ministro.

Sama foi presa pela polícia da Autoridade Palestina em Ramallah, sob a acusação de “ofender a religião”. Outras alegações dizem que na terça-feira (29) de manhã, a detenção de Sama foi estendida "por um período de 15 dias", em parte porque "a música Techno não é [reconhecida como] parte da herança palestina".

Os organizadores e demais pessoas que participaram do evento apontam que o local era, na verdade, o pátio do santuário e não o prédio em si, e o evento foi totalmente permitido pelo Ministério do Turismo Palestino. Abdulhadi foi presa como “bode expiatório” e “responsabilizada por um crime que não aconteceu."

Uma petição foi gerada para exigir a libertação de Sama, que também recebe apoio online através da hashtag #FreeSama em diversas plataformas, com destaque para o Twitter e o Instagram. 

A prisão ilegal de Sama ocorreu após um grupo de jovens interromper o evento de Nabi Mousa com ataques violentos e ameaças aos participantes. O ataque foi seguido por uma violenta campanha de desinformação nas redes sociais, gerando reações cada vez mais brutais dos grupos religiosos, que passaram a atacar Sama diretamente. 

Sama Abdulhadi foi aclamada como a "primeira DJ feminina" do Estado da Palestina e uma pioneira na cena underground regional. Ela apareceu no Boiler Room, France 24 e contribuiu com um Essential Mix da BBC Radio 1 em 2019. Sua participação era o ponto alto do evento, criado para expandir a representatividade palestina e desmistificar preconceitos e intolerâncias.

O resultado catastrófico gera uma revolta no cenário underground, mas ainda precisa chamar maior atenção midiática para salvar Sama de possíveis reações violentas das autoridades palestinas, sobretudo após sua prisão ter sido estendida por 15 dias e pela dificuldade de se obter informações concretas sobre seu atual estado. 

A petição que exige a libertação imediata da DJ Sama Abdulhadi pode ser acessada aqui

Sobre o autor

Marcos Henderson
Marcos HendersonPublicitário, músico e, aqui, escrevo sobre o que as diferentes culturas têm a nos dizer. Como artista, celebro a força da arte e conto histórias do entretenimento. Twitter: @marhoscenderson
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