Luto! Músico Naná Vasconcelos é sepultado no Cemitério de Santo Amaro

Percussionista faleceu na última quarta-feira (9) após 10 dias internado

Luto! Músico Naná Vasconcelos é sepultado no Cemitério de Santo Amaro
Diário 24 Horas
Por Diário 24 Horas

Luto na música brasileira! Na última quinta-feira, 10 de março, o corpo do percussionista Naná Vasconcelos foi enterrado ao som de batuques, de canções do folclore nordestino e gritos de 'Viva Naná'. O músico faleceu na última quarta-feira (9), após complicações de um câncer de pulmão descoberto há sete meses. Parentes, amigos e admiradores acompanharam o ato com músicas e palmas. O cantor Otto, que ajudou a carregar o caixão na entrada do cemitério, fez questão de lembrar da generosidade do ídolo e o trabalho que ele desenvolvia para as crianças. "(Ele era) pai da música, de todas as gerações. É um rei que chegou aqui em Pernambuco. Sempre estava aberto para os novos, essa coisa linda que ele era", declarou.

Outro admirador é o cantor Lira. Para ele, Naná era "o maior de todos" e cosmopolita. "Ele derreteu as fronteiras entre o regional e o universal. Alforriou e libertou os estreitos criados para os negros e índios, livrando-os dos estereótipos. Ele trouxe a luz, o protagonismo, a influência dele é gigantesca na estética da música daqui e do mundo. Ele solfejava todos os solos de Jimmy Hendrix", contou.

Depois que o túmulo foi selado, foram cantadas músicas religiosas, tanto do universo católico quanto da cultura africana. Um flautista ainda tocou uma canção medieval e convidou todos os presentes a cantar o Hino Nacional. Em seguida, as nações de maracatu executaram uma loa em homenagem ao artista. O túmulo ficou coberto de flores.

O maestro Spok também foi ao enterro prestigiar o mestre. Segundo ele, Naná deixa um legado infinito. "Ele deixou o infinito, uma obra que não acaba nunca. Qualquer um que conviveu com ele vai beber da música que fazia. Foi uma sorte ter convivido com ele, muito aprendizado. Tinha um amor intenso por tudo que viva. Era uma alegria", revelou.

Já o artista plástico e arte-educador Luiz Botelho não esquece os momentos em que se encontrou com o ídolo. "Desde criança acompanho o trabalho dele. Naná é um homem dentro da cidade. Ele era pura música, pura poesia. Tudo o que fazia som, de panela a penico velho, ele transformava em arte. Tudo para ele era agrupar no sentido de som, de vibração", disse. (G1)

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Cortejo

Após muitas horas de homenagens de parentes, amigos e fãs, o cortejo com corpo do percussionista Naná Vasconcelos, de 71 anos, deixou, às 10h, a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), no Centro do Recife, em direção ao Cemitério de Santo Amaro, também na capital pernambucana.O caixão foi levado em carro aberto pelo Corpo de Bombeiros.

O artista, que morreu na manhã de quarta-feira (9), foi velado no plenário da Assembleia Legislativa de Pernambuco. Naná ficou 10 dias internado no Hospital da Unimed III e não resistiu a complicações de um câncer de pulmão.

O plenário da Assembleia de Legislativa (Alepe) ficou lotado desde cedo, nesta quinta-feira (10), para as últimas homenagens ao percussionista. Antes de o cortejo seguir em direção ao Cemitério de Santo Amaro, diversas apresentações de artistas e nações de maracatu foram realizadas.

A musicista Íris Vieira, da Orquestra Sinfônica de Pernambuco, tocou a música 'Trenzinho Caipira', de Villa-Lobos, acompanhada pelo grupo de percussão Batucafro. Depois, o poeta cearense Israel Batista declamou o poema que fez em tributo ao percussionista, 'Louvor a Naná'.

A representante do Movimento Nacional do Quilombo Raça e Classe, Rosália Nascimento, também recitou um texto que fez em reverência ao músico. Durante o pronunciamento, ela destacou a importância de Naná para a população de origem africana. "Salve, salve, Naná, você mostrou que o negro pode ocupar todos os espaços. Vai deixar para nós a sua história, a sua música. Naná, sempre presente, hoje, amanhã e sempre", ressaltou.

Em seguida, o pai de santo Raminho de Oxóssi conduziu uma cerimônia com vários grupos religiosos de matriz africana. "Que Deus lhe dê o descanso eterno", desejou ao som de aplausos e batucadas. Ao fim do culto, um pequeno coral formado por cinco cantoras, clarins da Orquestra Sinfônica e percussionistas entoaram canções do artista e de ritmos afro-brasileiros.

Velado desde ontem

O velório de Naná Vasconcelos teve início às 14h30 da quarta-feira (9). Consternadas, a viúva do percussionista, Patrícia Vasconcelos, e filha do casal, Luz Morena, se emocionaram com a chegada do caixão e receberam o carinho de pessoas ligadas à família. "Ele partiu fazendo música no quarto do hospital nos últimos dias da vida dele. Ele vivia a música respirava a música.

Todo momento que falava sobre isso se sentia melhor. Espalhou muito amor e muita música pelo mundo todo. Essa é uma perda material, mas a música vai ficar. Ele deixa humildade como lição. Respeito ao próximo", disse a esposa Patrícia.

A mulher de Naná fez questão de destacar o trabalho que realizou junto a crianças e o legado que deixará, apesar de sua morte. "Como músico o trabalho que ele faz com crianças. Essa musicalidade se transporta para todas as idades. Era uma missão de vida se preocupar com o futuro de crianças que moravam na rua, que tinham problemas de deficiência. A gente descobriu a doença muito avançada. Já tínhamos viagem marcada para Nova Iorque (Estados Unidos) mas não deu tempo. Mas a equipe médica aqui foi muito competente e ele sempre muito positivo, querendo viver", acrescentou.

A filha do casal, Luz Morena, 16, disse que leva do pai um exemplo de humildade e força. "Ele me dá muita força sempre. Ele me chamou na UTI e me disse que eu seguisse meu sonho, que é estudar design de moda fora do país. Tenho muito orgulho da obra e da pessoa que ele foi", disse a filha com serenidade.

A outra filha do percussionista, Jasmin Azul, 21 anos, mora em Nova Iorque. A cerimônia foi aberta ao público. A população teve acesso ao plenário da Casa de José Mariano até a manhã da quinta-feira (10), antes do cortejo partir rumo ao Cemitério de Santo Amaro, também na área central do Recife, onde acontecerá o enterro de Naná Vasconcelos.

Na coroa de flores que veio junto com o corpo de Naná, havia a inscrição "Amém e amem". Segundo o contra-regra de Naná, Edelvan Barreto, essa era a mensagem que ele queria deixar para o mundo. "Amém e amem ele compôs da primeira vez que se internou no ano passado. Essa música deve se propagar em toda a humanidade nesse mundo perturbado que vivemos hoje. Essa era lição que Naná queria deixar para todos nós".

Os famosos tambores de Naná não estiveram presentes durante seu velório. Seu fotógrafo e amigo João Rogério Filho disse que o prédio da Alepe, por ser um patrimônio histórico e tombado tinha restrições. "Aqui tem uma restrição com instrumento de percussão. A batida forte pode subir e danificar a estrutura do prédio".

Apesar disso, o Maracatu Nação Porto Rico levou as alfaias para a área externa do prédio e fez uma homenagem ao percussionista, relembrando Naná como símbolo da união dos maracatus de Pernambuco. ‘Toque o tambor que Naná chegou. Todas as nações vêm saudar nesse carnaval’, estava entre as letras entoadas pelo grupo, liderado por mestre Chacon Viana.
"Naná deixava bem claro que não tem mestre, nem ninguém melhor, o mestre é só o do céu. Com seu papo pé no chão ele conseguia que as nações do estado se unificassem e se tornassem uma só. Ele tinha uma coisa que Deus que deu. Ele não precisava se sacrificar tanto, ele já tinha nome. Mas ele trabalhava o Carnaval inteiro, mesmo na quimioterapia ele frequentava as comunidades, trabalhava com as crianças”, recordou Viana.

Integrantes da Orquestra Criança Cidadã também fizeram uma apresentação em homenagem a Naná durante o velório. O presidente da Alepe, deputado Guilherme Uchoa destacou o patrimônio cultural que o percussionista era para o estado. "Ele é um exemplo para essa juventude que hoje o sucede. Ele deixou um exemplo forte da cultura pernambucana no exterior. Ele resistiu à doença até os últimos minutos da vida e vai deixar uma lacuna impreenchível”, afirmou.

O prefeito do Recife Geraldo Julio também esteve presente no velório e reforçou que o legado do percussionista é um presente a cultura de Pernambuco. "Naná já foi reconhecido várias vezes como melhor percussionista. Convivi muito com ele. Fica o ensinamento dele, toda a arte, o talento e a cultura para marcar nossa cidade e inspirar muita gente para seguir os passos".

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