K-pop: Morte de Yohan aos 28 anos retoma discussões sobre a realidade da indústria

Empresa que agencia o grupo TST exigiu que a causa da morte não seja revelada
Empresa que agencia o grupo TST exigiu que a causa da morte não seja revelada
Marcos Henderson
Por Marcos Henderson

A notícia da morte de Yohan, membro do grupo de K-pop TST, pegou muitos de surpresa na noite da última terça-feira (16) e retomou discussões sobre a realidade oculta da indústria oriental que movimenta bilhões de dólares por ano e se tornou uma das principais exportações da Coreia do Sul.

Yohan, cujo nome verdadeiro é Jim Jung-hwan, foi encontrado morto aos 28 anos de idade, mas a pedido dos familiares, a causa da morte não foi revelada pela imprensa, e de acordo com o jornal Korea JoongAng Daily, associado ao The New York Times, a empresa que agencia o grupo, KJ Music Entertainment, fez solicitações diretas aos jornais para que não fossem feitas especulações sobre a real causa da morte do músico. 

Não é novidade que o ambiente da indústria musical, como um todo, é rodeado de casos de assédio sexual, comportamentos exploratórios dos empresários responsáveis pelos maiores estúdios do ramo, entre outros casos que transformam o mercado musical em um mar ambíguo. Na Coreia do Sul, entretanto, o funcionamento do ramo é diferente. Segundo Stacy Nam, americana-coreana que trabalha em Seul com marketing internacional e relações públicas para a indústria da música, as empresas que tomam conta dos artistas do K-pop funcionam como gestores integrais da vida de cada artista contratado e são, a todo momento, 100% exigentes em relação à dedicação dos astros. 

"No K-pop, se os candidatos são selecionados por uma empresa, ela cuida de tudo. Se você precisa de algum tipo de retoque - como melhorar os dentes, a pele ou até mesmo fazer uma cirurgia plástica - a empresa paga", disse Nam em entrevista à BBC em agosto de 2018, aproveitando para reforçar que, caso os artistas não vendam como a empresa gostaria, continuarão "treinando" para alcançarem o objetivo central, com exercícios físicos constantes, aulas de idiomas, canto, dança e várias outras atividades repetidas à exaustão. 

Em março de 2017, a Comissão de Comércio Justo ordenou as principais agências de talento da Coreia do Sul a exterminarem os contratos injustos impostos aos associados, mas desde então, as polêmicas não pararam. O ingresso de um aspirante a ídolo acontece cedo, com até 12 horas de treinamento diários, e poucas horas de sono, para que os adolescentes recebam todos os tipos de ensinamentos possíveis e possam chegar aos níveis exigidos pelos executivos. 

Tornar-se uma estrela do K-pop realmente começa como um sonho para vários jovens, mas muitos deles desistem da ideia pelo caminho, alguns tarde demais, quando já estão na fase de lançamentos e apresentações. As pesadas exigências permanecem e, provavelmente, se intensificam quando a carreira começa a decolar. A morte precoce de Yohan volta a levantar discussões, sobretudo pela exigência da KJ Music Entertainment para que a causa da morte não seja revelada, mas entre as discussões e profundas lamentações, internautas manifestam solidariedade e prestam homenagem ao astro, além de enviarem mensagens carinhosas a outros ídolos coreanos. 

Sobre o autor

Marcos Henderson
Marcos HendersonPublicitário, músico e, aqui, escrevo sobre o que as diferentes culturas têm a nos dizer. Como artista, celebro a força da arte e conto histórias do entretenimento. Twitter: @marhoscenderson
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