Andre Braugher reavalia papel de capitão Holt em Brooklyn Nine-Nine

O ator reexamina seus papéis autoritários, mas se mostra cético quanto às mudanças na mitologia do herói policial
O ator reexamina seus papéis autoritários, mas se mostra cético quanto às mudanças na mitologia do herói policial
Marcos Henderson
Por Marcos Henderson

Séries, filmes e demais produções com temáticas policiais estão passando por um árduo processo de reformulação de scripts, incluindo possíveis casos em que as obras são deixadas de lado por conta do atual período de protestos contra a brutalidade policial e o racismo sistêmico imperante em várias regiões do mundo. Em "Brooklyn Nine-Nine", uma das mais populares séries de comédia da atualidade, não seria diferente. 

Andre Braugher dá vida ao severo, porém justo e sofisticado, capitão Raymond Holt, um homem negro gay que assumiu um alto cargo no Departamento de Polícia de Nova Iorque e, mesmo assim, ainda enfrenta percalços diretamente conectados ao preconceito ao longo dos episódios. A série aborda momentos ainda mais interessantes quando coloca a dificuldade de Holt diante da realidade feminina, com esforços corriqueiros dos criadores em exemplificarem casos de injustiça e arrogância masculina em ambientes amplamente dominados por homens. 

Mesmo assim, ainda é pouco. "Brooklyn Nine-Nine" é uma série de comédia, e como tal, precisa manter seu repertório de piadas e tiradas exageradas em dia, mas o novo desafio é manter-se engajado com o público diante de um cenário em que a polícia aparece cada vez mais como vilã nos noticiários. 

Brooklyn Nine-Nine insere discussões sobre racismo e arrogância masculina
Brooklyn Nine-Nine insere discussões sobre racismo e arrogância masculina
Brooklyn Nine-Nine insere discussões sobre racismo e arrogância masculina

Com quatro indicações ao Emmy na categoria de ator coadjuvante, Braugher provou que sua abordagem atípica em uma série de humor deu certo. Mesmo assim, o ator abraça a oportunidade de reavaliar seus papéis ligados ao autoritarismo ao longo da carreira, afirmando que se tornou "vítima da mitologia que foi construída".

"É difícil de ver. Mas, como há tantos programas policiais na televisão, é aí que o público obtém informações sobre o estado do policiamento. Policiais violando a lei para 'defender a lei' é uma ladeira realmente terrível e escorregadia. Ele deu licença para a violação da lei em todos os lugares, justificou e desculpou. Isso é algo que teremos que abordar coletivamente - todos os programas policiais", garantiu Braugher. 

O ator afirma que os programas de TV e filmes precisam reconhecer o silêncio que geralmente envolve a má conduta policial, bem como a falta de controle civil sobre os departamentos de polícia. E, além disso, "o mito de que os resultados do sistema de justiça criminal não dependem de sua raça precisa ser confrontado". No entanto, ele se mantém cético sobre as eventuais mudanças na mitologia de adoração ao herói policial. 

"Brooklyn Nine-Nine" sempre manteve o espaço aberto para críticas diretamente relacionadas às condutas policiais e ao racismo, mas precisará se esforçar ainda mais para entregar mensagens verdadeiramente promissoras ao público e ao futuro das produções do gênero. 

Sobre o autor

Marcos Henderson
Marcos HendersonPublicitário, músico e, aqui, escrevo sobre o que as diferentes culturas têm a nos dizer. Como artista, celebro a força da arte e conto histórias do entretenimento. Twitter: @marhoscenderson
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