Pantanal tenta humanizar Tenório, mas seus crimes não permitem

Escrever a persona de um vilão não é uma tarefa fácil, sobretudo quando a proposta gira em torno de um personagem que se divide entre a inescrupulosidade e os resquícios finais de um amor familiar indecifrável. Arrogante, abusador e totalmente mau-caráter, Tenório (Murilo Benício) tem como última esperança o sentimento verdadeiro de apreço pelos filhos, em especial sua querida Guta (Julia Dalavia). Pantanal até tenta, mas é difícil tornar o grileiro humano, principalmente com tanto sangue em suas mãos. 

Sem dúvidas, uma das principais vítimas de Tenório é Maria Bruaca (Isabel Teixeira), pois, ao invés de simplesmente lançá-la para a sorte como fez com todos os seus clientes, ele mantém uma rotina de humilhação cultivada por décadas e já transformou a esposa em um trapo quase irreversível, se não fosse pelo projeto de independência fundamentado pela personagem após a descoberta da segunda família do marido. 

Além da vida ao lado de Maria e Guta, Tenório viaja constantemente a São Paulo para visitar a família “lado B”, exibindo mais alguns detalhes perturbadores de sua personalidade e escancarando a preferência por Guta, enquanto os filhos de sua segunda esposa ficam cada vez mais crentes de que Tenório é racista. 

A novela das nove ainda vai inserir algumas situações ambíguas no núcleo de Tenório, dando ao personagem algumas chances de se redimir por algumas de suas péssimas ações, mas nada tirará o fato de que litros de sangue de terceiros estão guardados no baú apodrecido de seu organismo, ampliando sua própria toxicidade e impedindo totalmente sua redenção.