Presidente da Fundação Palmares xinga e ridiculariza Movimento Negro

Sério Camargo já foi obrigado pela Justiça a apagar textos publicados em repúdio a Zumbi dos Palmares
Sério Camargo já foi obrigado pela Justiça a apagar textos publicados em repúdio a Zumbi dos Palmares
Bruna Pinheiro
Por Bruna Pinheiro

O Estadão teve acesso a um áudio de uma reunião do atual presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, em que xingou e ridicularizou o Movimento Negro no Brasil, chamando o movimento de “escória maldita” que abriga “vagabundos”. O áudio foi gravado durante uma reunião fechada do órgão.

A Fundação Palmares é veiculada à pasta da atual Secretaria da Cultura, e em seu primeiro artigo, da Lei que institui o órgão diz ter como intuito “promover a preservação dos valores culturais, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira”, além de fomentar o acesso à cultura e preservação de manifestações afro-brasileiras.

Apesar do perfil específico, o atual presidente é fortemente criticado desde antes de sua posse em 2019, por possuir uma postura conservadora, se definindo como “Negro de direita, antivitimista, inimigo do politicamente correto, livre”. O presidente já foi alvo de diversas polêmicas, entre as mais recentes estão o seu embate com a ex-secretária de Cultura, Regina Duarte, e a homenagem à Princesa Isabel no site da Fundação no dia 13 de maio, em alusão a abolição da escravidão, quando foi cobrado a prestar homenagem aos milhares de mortos no período da escravidão ou pelos que lutaram para que o movimento ocorresse.

Nesta nova polêmica, o áudio divulgado mostra Sérgio Camargo xingar o movimento após ser cobrado pelo ressarcimento de um telefone corporativo, que de acordo como presidente desapareceu, e diz: “Eu exonerei três diretores nossos (...). Qualquer um deles pode ter feito isso. Quem poderia? Alguém que quer me prejudicar, invadir esse prédio para me espancar, invadir com a ajuda de gente daqui... O movimento negro, os vagabundos do movimento negro, essa escória maldita. (…) Agora, eu vou pagar essa merda aí”.

Camargo ainda comentou sobre o processo movido no ano passado para impedi-lo de atuar como presidente da Fundação, dizendo que isso não dará em nada. “Esses filhos da p* da esquerda não admitem negros de direita. Vou colocar meta aqui para todos os diretores, cada um entregar um esquerdista. Quem não entregar esquerdista vai sair. É o mínimo que vocês têm que fazer”.

Outro ponto comentado pelo Presidente, foi sobre Zumbi dos Palmares, entidade que inspirou a criação do órgão e que Camargo já produziu diversos ataques à figura de Zumbi. “Não tenho que admirar Zumbi dos Palmares, que, para mim, era um filho da puta que escravizava pretos. Não tenho que apoiar agenda consciência negra. Aqui não vai ter, vai ter zero da consciência negra. Quando cheguei aqui, tinham eventos até no Amapá, tinha show de pagode no dia da consciência negra”.

Após a divulgação dos áudios, Camargo emitiu nota ao Estadão e lamentou a gravação ilegal. Durante sua nota, afirmou também que o órgão está “voltado para a população e não apenas para determinados grupos que, ao se auto intitularem representantes de toda a população negra, histórica e deliberadamente se beneficiaram do dinheiro público”. 

Várias personalidades e participantes do Movimento Negro repercutiram o caso, ao passo que Camargo continua promovendo a ridicularização do movimento em suas redes sociais.

Sobre o autor

Bruna Pinheiro
Bruna PinheiroInternacionalista. Escrevo hoje sobre política, economia, filmes e séries. Adoro viajar e comer (não necessariamente nessa ordem). Segue lá @bpinheiro1
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