Ausência da Palestina no Google Maps reacende teorias; O buraco é mais profundo
Usuários do Twitter deram início a uma manifestação global nesta quinta-feira (16) com acusações referentes a uma suposta exclusão da Palestina dos mapas do Google e da Apple. Este problema, entretanto, já existe há anos, já virou motivo de protestos e reúne diversos fatores em um buraco muito mais profundo do que muitos imaginam.
Se você pesquisar pela Palestina no Google Maps neste exato momento será levado a um limite geográfico rotulado apenas como Israel. O estado está marcado no mapa, mas não existe uma etiqueta que reconheça os limites do estado, o que provocou protestos online. Internautas passaram a acusar a Apple e o Google de tentarem apagar a Palestina, mas as gigantes da tecnologia não tinham incluído o estado em seus mapas antes.
Por que a Palestina não está devidamente rotulada no Google Maps?
A área da Palestina sofre controvérsias desde os anos 1900. Geralmente, as pessoas se referem à região entre o Mar Mediterrâneo e o rio Jordão, como Palestina. No entanto, também está incluso a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, mas devido ao longo conflito israelense-palestino, não há fronteira real entre as duas regiões e, com isso, estendem-se incertezas sobre os limites territoriais até hoje, época em que vários palestinos se espalham por pequenos assentamentos na Cisjordânia.
O conflito entre Israel e Palestina começou a ficar fora de controle desde que o governo de coalizão do presidente Netanyahu começou a avançar com os planos de enfraquecer a Autoridade Palestina. O conflito armado na região também viu um pico com a juventude palestina se unindo a movimentos militantes.
Acusações e petições antigas não surtiram efeito
Enquanto 136 membros das Nações Unidas reconhecem a Palestina como um estado independente, os EUA e grande parte do Ocidente não. Em agosto de 2016, o fórum de jornalistas palestinos divulgou uma declaração condenando o Google pela confusa delimitação territorial exibida no Maps, e as reclamações não demoraram muito para se espalhar nas redes sociais, gerando indignação generalizada e uma petição que reuniu cerca de 250.000 mil assinaturas no pico do assunto na época, e continua ativa na web, com considerável retomada das assinaturas após as acusações desta quinta, apresentando mais de 750 mil assinaturas até o fechamento desta matéria, e ainda crescendo.
Em mais de três anos (quatro daqui a um mês), nada mudou. Se você clicar em qualquer uma das cidades da região que se estende de Hebron, no sul, a Jenin, no norte, e de Jerusalém até a fronteira com a Jordânia, o Google automaticamente as rotulará como palestinas, mas não haverá nenhum título de rótulo padronizado para o território oficial da Palestina.
A discussão sobre o assunto, portanto, começou a levantar dúvidas sobre o foco e o poder das tecnologias de mapeamento, como as do Google e da Apple. Para Caitlin Dewey, do Washington Post e Buffalo News, "em suas tentativas de documentar desapaixonadamente o mundo físico on-line, as empresas de tecnologia frequentemente acabam também moldando nossa compreensão. Isso não é algo em que tendemos a pensar com frequência, mas fica bastante óbvio quando um mapa muda / é dito que mudou, ou quando comparamos mapas diferentes entre si". A opinião foi exposta em reportagem de 2016, mas se aplica perfeitamente à atual situação, que é basicamente a mesma.
Problemas com a rotulação de limites territoriais não são exclusivos da Palestina. Crimeia, por exemplo, foi dominada pela Rússia após disputa frenética com a Ucrânia, em um ato de ocupação repudiado por inúmeras esferas de poder mundial, entre políticos, analistas e juristas que condenaram Moscou em 2014 pois, do ponto de vista legal, Crimeia pertence à Ucrânia.
Plano de paz de Trump deixa palestinos em desespero
Em janeiro deste ano, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou uma proposta de plano de paz que estabeleceria a soberania israelense sobre boa parte do vale do rio Jordão, a oeste da fronteira com a Jordânia. Ao lado do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, Trump apresentou o plano como a solução para o confronto histórico.
Para os palestinos, a mudança significa a perda de terras vitais para um estado futuro e um golpe mortal nos sonhos de autodeterminação. Grande parte da comunidade global observa com crescente preocupação o que já é apontado como uma clara violação do direito internacional e possível estopim de novas tensões, ao invés da paz que Trump prega, ignorando as pretensões dos palestinos e reforçando o desejo de manter Israel em vantagem absoluta.
A estrada de anexação ganhou o nome de Menachem Begin, ex-líder militante judeu que se tornou o sexto primeiro ministro de Israel e, posteriormente, um ícone do nacionalismo de direita, fundando o movimento que mais tarde se fundiu até o surgimento do partido Likud, atualmente liderado por Netanyahu. A rampa da estrada passa por um prédio de 12 andares coberto por um enorme pôster dos presidentes israelense e americano. "Não a um estado palestino!", diz curto texto da propaganda, em hebraico. "Soberania - Faça certo!", completa.
Israel está planejando um novo assentamento, chamado Givat Eitam, que seria considerado um bairro de Efrat. Para produtores da região, isso pode significar a construção de portões e cercas que impedirão produtores de atravessarem as próprias terras. As autoridades israelenses, entretanto, apontam constantemente que as rotas das cercas podem ser contestadas no processo de planejamento ou nos tribunais.
O plano de Trump é uma grande ruptura das propostas de paz anteriores. Alguns especulam que isso poderia ter levado Israel a ganhar formalmente os grandes blocos de assentamentos como parte de um acordo negociado com os palestinos, que querem a Cisjordânia como parte de seu futuro estado.
Como dito no início, o buraco é bem mais profundo e tende a gerar novas grandes tensões em breve.