Ausência da Palestina no Google Maps reacende teorias; O buraco é mais profundo

Plano de Paz proposto por Trump ressalta cada vez mais o plano de soberania israelense
Plano de Paz proposto por Trump ressalta cada vez mais o plano de soberania israelense
Marcos Henderson
Por Marcos Henderson

Usuários do Twitter deram início a uma manifestação global nesta quinta-feira (16) com acusações referentes a uma suposta exclusão da Palestina dos mapas do Google e da Apple. Este problema, entretanto, já existe há anos, já virou motivo de protestos e reúne diversos fatores em um buraco muito mais profundo do que muitos imaginam.

Se você pesquisar pela Palestina no Google Maps neste exato momento será levado a um limite geográfico rotulado apenas como Israel. O estado está marcado no mapa, mas não existe uma etiqueta que reconheça os limites do estado, o que provocou protestos online. Internautas passaram a acusar a Apple e o Google de tentarem apagar a Palestina, mas as gigantes da tecnologia não tinham incluído o estado em seus mapas antes. 

Por que a Palestina não está devidamente rotulada no Google Maps?

Internautas acusam Google de excluir Palestina do Maps
Internautas acusam Google de excluir Palestina do Maps
Internautas acusam Google de excluir Palestina do Maps

A área da Palestina sofre controvérsias desde os anos 1900. Geralmente, as pessoas se referem à região entre o Mar Mediterrâneo e o rio Jordão, como Palestina. No entanto, também está incluso a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, mas devido ao longo conflito israelense-palestino, não há fronteira real entre as duas regiões e, com isso, estendem-se incertezas sobre os limites territoriais até hoje, época em que vários palestinos se espalham por pequenos assentamentos na Cisjordânia. 

O conflito entre Israel e Palestina começou a ficar fora de controle desde que o governo de coalizão do presidente Netanyahu começou a avançar com os planos de enfraquecer a Autoridade Palestina. O conflito armado na região também viu um pico com a juventude palestina se unindo a movimentos militantes.

Acusações e petições antigas não surtiram efeito

Petição cobra a rotulação correta da Palestina no mapa do Google
Petição cobra a rotulação correta da Palestina no mapa do Google
Petição cobra a rotulação correta da Palestina no mapa do Google

Enquanto 136 membros das Nações Unidas reconhecem a Palestina como um estado independente, os EUA e grande parte do Ocidente não. Em agosto de 2016, o fórum de jornalistas palestinos divulgou uma declaração condenando o Google pela confusa delimitação territorial exibida no Maps, e as reclamações não demoraram muito para se espalhar nas redes sociais, gerando indignação generalizada e uma petição que reuniu cerca de 250.000 mil assinaturas no pico do assunto na época, e continua ativa na web, com considerável retomada das assinaturas após as acusações desta quinta, apresentando mais de 750 mil assinaturas até o fechamento desta matéria, e ainda crescendo. 

Em mais de três anos (quatro daqui a um mês), nada mudou. Se você clicar em qualquer uma das cidades da região que se estende de Hebron, no sul, a Jenin, no norte, e de Jerusalém até a fronteira com a Jordânia, o Google automaticamente as rotulará como palestinas, mas não haverá nenhum título de rótulo padronizado para o território oficial da Palestina. 

A discussão sobre o assunto, portanto, começou a levantar dúvidas sobre o foco e o poder das tecnologias de mapeamento, como as do Google e da Apple. Para Caitlin Dewey, do Washington Post e Buffalo News, "em suas tentativas de documentar desapaixonadamente o mundo físico on-line, as empresas de tecnologia frequentemente acabam também moldando nossa compreensão. Isso não é algo em que tendemos a pensar com frequência, mas fica bastante óbvio quando um mapa muda / é dito que mudou, ou quando comparamos mapas diferentes entre si". A opinião foi exposta em reportagem de 2016, mas se aplica perfeitamente à atual situação, que é basicamente a mesma. 

Problemas com a rotulação de limites territoriais não são exclusivos da Palestina. Crimeia, por exemplo, foi dominada pela Rússia após disputa frenética com a Ucrânia, em um ato de ocupação repudiado por inúmeras esferas de poder mundial, entre políticos, analistas e juristas que condenaram Moscou em 2014 pois, do ponto de vista legal, Crimeia pertence à Ucrânia. 

Plano de paz de Trump deixa palestinos em desespero

Ponte em construção facilitará a viagem entre Jerusalém e os assentamentos
Ponte em construção facilitará a viagem entre Jerusalém e os assentamentos
Ponte em construção facilitará a viagem entre Jerusalém e os assentamentos

Em janeiro deste ano, o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou uma proposta de plano de paz que estabeleceria a soberania israelense sobre boa parte do vale do rio Jordão, a oeste da fronteira com a Jordânia. Ao lado do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, Trump apresentou o plano como a solução para o confronto histórico. 

Para os palestinos, a mudança significa a perda de terras vitais para um estado futuro e um golpe mortal nos sonhos de autodeterminação. Grande parte da comunidade global observa com crescente preocupação o que já é apontado como uma clara violação do direito internacional e possível estopim de novas tensões, ao invés da paz que Trump prega, ignorando as pretensões dos palestinos e reforçando o desejo de manter Israel em vantagem absoluta. 

A estrada de anexação ganhou o nome de Menachem Begin, ex-líder militante judeu que se tornou o sexto primeiro ministro de Israel e, posteriormente, um ícone do nacionalismo de direita, fundando o movimento que mais tarde se fundiu até o surgimento do partido Likud, atualmente liderado por Netanyahu. A rampa da estrada passa por um prédio de 12 andares coberto por um enorme pôster dos presidentes israelense e americano. "Não a um estado palestino!", diz curto texto da propaganda, em hebraico. "Soberania - Faça certo!", completa.  

Propaganda de Trump e Netanyahu enaltece a soberania israelense
Propaganda de Trump e Netanyahu enaltece a soberania israelense
Propaganda de Trump e Netanyahu enaltece a soberania israelense

Israel está planejando um novo assentamento, chamado Givat Eitam, que seria considerado um bairro de Efrat. Para produtores da região, isso pode significar a construção de portões e cercas que impedirão produtores de atravessarem as próprias terras. As autoridades israelenses, entretanto, apontam constantemente que as rotas das cercas podem ser contestadas no processo de planejamento ou nos tribunais.

O plano de Trump é uma grande ruptura das propostas de paz anteriores. Alguns especulam que isso poderia ter levado Israel a ganhar formalmente os grandes blocos de assentamentos como parte de um acordo negociado com os palestinos, que querem a Cisjordânia como parte de seu futuro estado. 

Como dito no início, o buraco é bem mais profundo e tende a gerar novas grandes tensões em breve. 

Sobre o autor

Marcos Henderson
Marcos HendersonPublicitário, músico e, aqui, escrevo sobre o que as diferentes culturas têm a nos dizer. Como artista, celebro a força da arte e conto histórias do entretenimento. Twitter: @marhoscenderson
Fale com o autor: [email protected]
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